Corria o ano de 2004 (por aí) estava eu a ver o noticiário na televisão e apareceu-me um tipo de blazer e cabelo à pato bravo que quer parecer queque, com a legenda em rodapé: Ministro da Juventude e Desporto. “Deve ter sido futebolista, ou jogador de basquete, ou qualquer coisa assim na área do desporto” pensei eu. Mas aí reparei que o dito senhor tinha a unha do dedo mindinho comprida. E reparei porque ele, ao ser parado por uma repórter, levou a mão à altura do rosto, em ângulo recto, e limpou vigorosamente o ouvido com a unha. “Oh diabo!” pensei, “é mas é pato bravo”.
Porque vou-lhes dizer, nem na altura do PREC, nem quando a classe trabalhadora esteve a uma unha negra do poder, eu tinha visto um ministro limpar o ouvido com a unha comprida do dedo mindinho. Fiquei seriamente preocupado.
Mal sabia eu. O fulano era nem mais nem menos do que Armando Vara, pós-graduado e licenciado (por essa ordem) da nossa praça, subsecretário de secretário, secretário, ministro – um homem com uma carreira política meteórica e um tanto disléxica: afinal de contas, o que é que um funcionário da CGD em Vinhais, Trás-os-Montes, com o 12º ano, sabe de Administração Interna, Juventude, Desporto e Prevenção Rodoviária?
Mas essa escalada de elevador pelas escadas do Poder foi apenas a primeira parte da vida deste fura-vidas. Terminou com um escândalo incómodo, relacionado com uma tal Fundação para a Prevenção da Segurança Rodoviária – mas a simpática e eficiente Justiça portuguesa arquivou o processo por falta de provas.
A segunda parte é a vida Armando António Martins Vara como grande gestor da banca. Pelo menos aí pode dizer-se que estava no seu elemento, pois com certeza que conseguia contar maços de notas com presteza, ajudado por aquela unha do dedo mindinho. Começou na Administração da Caixa Geral de Depósitos, esse poço sem fundo onde caem todos os ex-políticos. E três dias antes de entrar na CGD já era licenciado. Dois anos depois passava a vice-presidente do maior banco português, o Millennium, com pelouros suficientes para meia dúzia de pessoas.
Helás! Salários sumptuosos não lhe tiraram o apetite por dinheiro pequeno. No processo Face Oculta constam de envelopes com 15 mil euros, caixas de robalos e almoços em restaurantes meia leca.
E assim chegamos à terceira parte da vida e obra de Armando António: Presidente do Conselho de Administração da cimenteira Camargo Corrêa África. A ida para Angola podia lembrar um pouco o desterro dos degredados no século XIX, que iam cumprir pena nas colónias com a ideia que as doenças tropicais os matassem. Mas os tempos africanos mudaram, claro. Angola é hoje em dia uma powerhouse de desenvolvimento, a precisar de cimento, muito cimento. No meio da nomenklatura de Luanda, e com os métodos de negócio que lá se praticam, Vara está como um peixe na água.
A última vez que ouvi falar de dele foi há poucos dias. Testemunhas e intervenientes concordam que Vara adentrou pelo Centro de Saúde de Alvalade, passou à frente de vinte velhinhos reformados e exigiu da médica um atestado de saúde, depressa porque tinha de apanhar o avião.
Um dos velhinhos, José Francisco Tavares, pai de seis filhos, apresentou queixa contra ele - coitado, acha que Vara é um cidadão igual aos outros, processável. Conhecendo os modos da Justiça, não me surpreenderia se num ano ou dois o Tavares não visse a reforma penhorada para pagar um processo por difamação.
Agora, uma coisa eu já tinha reparado, ao ver Vara dois dias antes, à saída do tribunal onde decerto será declarado inocente por falta de provas: o homem já cortou a unha do dedo mindinho.
Delicioso comentário !... Toda a gente conhece factos idênticos , deste "impostor" e de outros quejandos similares... mas valerá a pena denunciar algo, neste território "à beira mar plantado" ? Desgastamo-nos a apontar estas evidencias, consumimo-nos a clamar justiça, revoltamo-nos contra o poder "canalha", mas fará sentido esta luta contra os "moinhos de vento" ? Quem elege esta malha politica que nos governa ? Dois milhões e duzentos mil, reelegeram o marido da 1ª Dama, reconhecidos pelo passado brilhante dos Tabus e Incertezas, nas próximas irão outros eleger o Líder da JSD, para salvar a Nau Catrineta , feito timoneiro...! É triste trabalhar há trinta e cinco anos e ter no horizonte somente o espectro da "porca miséria" desta terra, que nos fez permanecer aqui, na esperança que isto seria um PAÍS...!!! Não quero invocar o passado mais longinquo , mas aquilo que foram as esperanças de quem fez vinte anos no 25abril74 , vê cairem por terra muitos sonhos... lindos !!! Ingénuos ?
De Um cidadão como os outros a 23 de Fevereiro de 2011
O drama da "revolução" é que foi engendrada por oficiais oportunistas, (eu estive em contacto com alguns deles e conheço alguns dos fundamentos) que se aliaram aos comunistas e socialistas que todos conhecem bem e que convenceram o povo de que a democracia é que era bom para o pais. Mas há 2 factores que provam que não é bem assim, um é a "cartelização" do sistema politico em que os partidos se apoderaram do poder e o partilham à vez, ironicamente, eleitos democraticamente pelo povo e a outra é a ilusão que o cidadão tem de que é representado nos órgãos do poder e, porque ninguém quer ser rotulado de antidemocrático ou fascista, não faz nada e fica à espera que aqueles em quem votou sejam íntegros e façam o que deve ser feito. E se não vejamos a ironia da situação, o professor SALAZAR foi "ditador" durante quase 50 anos seria de esperar que tivesse uma fortuna imensa fruto do aproveitamento da sua função e no entanto quando faleceu quase foi necessário fazer um peditório para lhe fazer o enterro, mas os nossos actuais democráticos " governantes passam pelo poder por 8 ou 10 anos e quando saem, para além do que se aproveitaram enquanto lá estiveram, ainda lhes são atribuídas pensões milionárias e privilégios vitalícios, tudo isto a custa do cidadão que trabalha, ou tenta trabalhar, toda a vida para sobreviver e reforma-se com uma pensão de miséria Penso que a ultima manifestação de existência de espinha dorsal no povo português data de 1640. O Professor conhecia-nos bem quando dizia "o povo não precisa de pensar, tem cá (no governo) quem pense por ele...", e na realidade ainda hoje não pensa quando deve de pensar e é por isso que somos governados por uma corja de oportunistas. Acho que esta na altura de fazer o que deve ser feito, acabar de vez com o oportunismo e ter a coragem de acabar com esta "democracia" que apenas serve os interesses de uma minoria que dita regras como se de uma ditadura se tratasse.
Sr. Cidadão, essa de que o Salazar era bom porque não roubava é muito redutor. Não roubava mas deixava a nomenklatura do Estado Novo roubar, as pessoas passavam fome, não havia Serviço Nacional de Saúde, o analfabetismo era o maior da Europa, a mortalidade infantil brutal... Isto para não mencionar a falta de liberdade completa, a guerra prolongada e as prisões políticas. O balanço não é positivo.
Ok... nem tanto ao mar nem tanto à terra! Têm os dois um bocadinho de razão cada... não se zanguem! O que é facto é que os lideres da revolução de Abril, nenhum ficou mal, muito pelo contrario. Eu de certeza sou bastante mais novo do que os senhores, mas digo-vos uma coisa que é o resumo de tudo isto: Mentalidade dos politicos nacionais: Salve-se quem puder, como puder e não se preocupem com quem vem atrás, porque esse é quem tem de fechar a porta!