Domingo, 20 de Fevereiro de 2011

A unha comprida do dedo mindinho

Corria o ano de 2004 (por aí) estava eu a ver o noticiário na televisão e apareceu-me um tipo de blazer e cabelo à pato bravo que quer parecer queque, com a legenda em rodapé: Ministro da Juventude e Desporto. “Deve ter sido futebolista, ou jogador de basquete, ou qualquer coisa assim na área do desporto” pensei eu. Mas aí reparei que o dito senhor tinha a unha do dedo mindinho comprida. E reparei porque ele, ao ser parado por uma repórter, levou a mão à altura do rosto, em ângulo recto, e limpou vigorosamente o ouvido com a unha. “Oh diabo!” pensei, “é mas é pato bravo”.

Porque vou-lhes dizer, nem na altura do PREC, nem quando a classe trabalhadora esteve a uma unha negra do poder, eu tinha visto um ministro limpar o ouvido com a unha comprida do dedo mindinho. Fiquei seriamente preocupado.

Mal sabia eu. O fulano era nem mais nem menos do que Armando Vara, pós-graduado e licenciado (por essa ordem) da nossa praça, subsecretário de secretário, secretário, ministro – um homem com uma carreira política meteórica e um tanto disléxica: afinal de contas, o que é que um funcionário da CGD em Vinhais, Trás-os-Montes, com o 12º ano, sabe de Administração Interna, Juventude, Desporto e Prevenção Rodoviária?

Mas essa escalada de elevador pelas escadas do Poder foi apenas a primeira parte da vida deste fura-vidas. Terminou com um escândalo incómodo, relacionado com uma tal Fundação para a Prevenção da Segurança Rodoviária – mas a simpática e eficiente Justiça portuguesa arquivou o processo por falta de provas.

A segunda parte é a vida Armando António Martins Vara como grande gestor da banca. Pelo menos aí pode dizer-se que estava no seu elemento, pois com certeza que conseguia contar maços de notas com presteza, ajudado por aquela unha do dedo mindinho. Começou na Administração da Caixa Geral de Depósitos, esse poço sem fundo onde caem todos os ex-políticos. E três dias antes de entrar na CGD já era licenciado. Dois anos depois passava a vice-presidente do maior banco português, o Millennium, com pelouros suficientes para meia dúzia de pessoas.

Helás! Salários sumptuosos não lhe tiraram o apetite por dinheiro pequeno. No processo Face Oculta constam de envelopes com 15 mil euros, caixas de robalos e almoços em restaurantes meia leca.

E assim chegamos à terceira parte da vida e obra de Armando António: Presidente do Conselho de Administração da cimenteira Camargo Corrêa África. A ida para Angola podia lembrar um pouco o desterro dos degredados no século XIX, que iam cumprir pena nas colónias com a ideia que as doenças tropicais os matassem. Mas os tempos africanos mudaram, claro. Angola é hoje em dia uma powerhouse de desenvolvimento, a precisar de cimento, muito cimento. No meio da nomenklatura de Luanda, e com os métodos de negócio que lá se praticam, Vara está como um peixe na água.

 

A última vez que ouvi falar de dele foi há poucos dias. Testemunhas e intervenientes concordam que Vara adentrou pelo Centro de Saúde de Alvalade, passou à frente de vinte velhinhos reformados e exigiu da médica um atestado de saúde, depressa porque tinha de apanhar o avião.

Um dos velhinhos, José Francisco Tavares, pai de seis filhos, apresentou queixa contra ele  - coitado, acha que Vara é um cidadão igual aos outros, processável. Conhecendo os modos da Justiça, não me surpreenderia se num ano ou dois o Tavares não visse a reforma penhorada para pagar um processo por difamação.

 

Agora, uma coisa eu já tinha reparado, ao ver Vara dois dias antes, à saída do tribunal onde decerto será declarado inocente por falta de provas: o homem já cortou a unha do dedo mindinho.

Aprendeu. Agora é que ele vai arrasar.

publicado por Perplexo às 23:01
link do post | favorito
De BANZÉ a 23 de Fevereiro de 2011
Delicioso comentário !... Toda a gente conhece factos idênticos , deste "impostor" e de outros quejandos similares... mas valerá a pena denunciar algo, neste território "à beira mar plantado" ? Desgastamo-nos a apontar estas evidencias, consumimo-nos a clamar justiça, revoltamo-nos contra o poder "canalha", mas fará sentido esta luta contra os "moinhos de vento" ?
Quem elege esta malha politica que nos governa ? Dois milhões e duzentos mil, reelegeram o marido da 1ª Dama, reconhecidos pelo passado brilhante dos Tabus e Incertezas, nas próximas irão outros eleger o Líder da JSD, para salvar a Nau Catrineta , feito timoneiro...! É triste trabalhar há trinta e cinco anos e ter no horizonte somente o espectro da "porca miséria"
desta terra, que nos fez permanecer aqui, na esperança que isto seria um PAÍS...!!! Não quero invocar o passado mais longinquo , mas aquilo que foram as esperanças de quem fez vinte anos no 25abril74 , vê cairem por terra muitos sonhos... lindos !!! Ingénuos ?
De Um cidadão como os outros a 23 de Fevereiro de 2011
O drama da "revolução" é que foi engendrada por oficiais oportunistas, (eu estive em contacto com alguns deles e conheço alguns dos fundamentos) que se aliaram aos comunistas e socialistas que todos conhecem bem e que convenceram o povo de que a democracia é que era bom para o pais. Mas há 2 factores que provam que não é bem assim, um é a "cartelização" do sistema politico em que os partidos se apoderaram do poder e o partilham à vez, ironicamente, eleitos democraticamente pelo povo e a outra é a ilusão que o cidadão tem de que é representado nos órgãos do poder e, porque ninguém quer ser rotulado de antidemocrático ou fascista, não faz nada e fica à espera que aqueles em quem votou sejam íntegros e façam o que deve ser feito.
E se não vejamos a ironia da situação, o professor SALAZAR foi "ditador" durante quase 50 anos seria de esperar que tivesse uma fortuna imensa fruto do aproveitamento da sua função e no entanto quando faleceu quase foi necessário fazer um peditório para lhe fazer o enterro, mas os nossos actuais democráticos " governantes passam pelo poder por 8 ou 10 anos e quando saem, para além do que se aproveitaram enquanto lá estiveram, ainda lhes são atribuídas pensões milionárias e privilégios vitalícios, tudo isto a custa do cidadão que trabalha, ou tenta trabalhar, toda a vida para sobreviver e reforma-se com uma pensão de miséria
Penso que a ultima manifestação de existência de espinha dorsal no povo português data de 1640.
O Professor conhecia-nos bem quando dizia "o povo não precisa de pensar, tem cá (no governo) quem pense por ele...", e na realidade ainda hoje não pensa quando deve de pensar e é por isso que somos governados por uma corja de oportunistas.
Acho que esta na altura de fazer o que deve ser feito, acabar de vez com o oportunismo e ter a coragem de acabar com esta "democracia" que apenas serve os interesses de uma minoria que dita regras como se de uma ditadura se tratasse.
De Carlos de Sá a 23 de Fevereiro de 2011
Caro cidadão: em África e no Médio Oriente, embora à rasca, ainda há umas ditaduras recomendáveis; porque não vai para lá?
Eu vivi 20 anos sob o fascismo, e lamento muito que imbecis que nem sabem o que dizem se lembrem de branquear a maior barbárie que este país conheceu. Estou farto desta "Democracia", mas não farei, nunca, a apologia de um regime abominável.
De ribas a 23 de Fevereiro de 2011
tinha 18 anos em 1974
hoje tenho 55
Pois é caro comentador
Diga-me se nesse tempo algum trabalhador fora penalizado no seu local de trabalho por ter enviado um e-mail aos colegas, informando da sua indisponibilidade para continuar a trabalhar e demitindo-se de seguida.
Em 1974 tinha o meu registo criminal limpo.
Em 2011, tenho dúvidas, caso 1º-OTribunal acusa-me de um crime- o de ameaças, só porque quis responsabilizar as autoridades do trabalho que não efectuaram;
caso 2º- o tal email que me valeu um ano de inactividade profissional e não só 2200 de pena de multa
E nada mais digo desta dita democracia
De Carlos de Sá a 23 de Fevereiro de 2011
Em 1974 trabalhava eu há oito anos. Dir-lhe-ei que fui vítima de acidente de trabalho gravíssimo, sem que isso desse direito ao que quer que fosse, porque a Lei, os Tribunais e a Inspecção do Trabalho estavam do lado do patrão, que era membro da UN.
Repito: estou farto desta "Democracia", mas jamais tecerei loas à maior barbárie que este país conheceu.
Comentar:

Mais

Comentar via SAPO Blogs

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

mais sobre mim


ver perfil

seguir perfil

. 23 seguidores

Veja também:

"Pesquisa Sentimental"

 

 

pesquisar

posts recentes

Concurso de blogues

Voltarei

Silêncio...

Horta e Alorna

A Selecção, minuto a minu...

Cosmopolis

Millôr Fernandes

A maçã chinesa

Transigir ou não transigi...

EDP, o verdadeiro escânda...

arquivos

Janeiro 2013

Julho 2012

Junho 2012

Março 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Janeiro 2008

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Maio 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

subscrever feeds