Segunda-feira, 8 de Agosto de 2011

Quem deve, teme

Até 2009 pouco se falava de dívida soberana. Existia, como sempre existiu, mas era um daqueles dados macroeconómicos que só interessava a especialistas, e provavelmente o comum dos mortais nem sabia o que quer dizer. Os cidadãos tinham as suas dívidas pessoais com que se preocupar - o que já não era pouco, uma vez que aumentavam constantemente. Mas enquanto os bancos as suportassem e até apoiassem, ia-se vivendo.

 

Agora, o drama da dívida soberana. A nossa e a dos outros, uma vez que com a globalização está tudo interligado. A incapacidade de pagar a nossa. E a incapacidade da Europa nos ajudar a pagá-la. A discussão se se deve ou não fazê-lo – afinal de contas fomos nós que a criámos.

Outro facto que não é novo mas que também só agora nos caiu a ficha é que a dívida dos outros afecta a nossa. Se a Grécia falir, as nossas hipóteses de falir aumentam exponencialmente. E então, se a coisa chega à Espanha...

 

Então e os Estados Unidos? Esta semana foi a dívida americana que esteve na berlinda. Sim, porque eles também devem. E como! Neste momento estão a dever ao mundo – isto é, à China – nada mais nada menos do que 1,2 triliões de dólares. Depois de uma disputa entre o Presidente e a oposição que faz lembrar as nossas disputas politicas – isto é, em que os interesses partidários estiveram acima do interesse nacional - o teto da dívida soberana americana foi fixado em 2,4 triliões.

 

Peraí, o que são 2,4 triliões? Um trilião é um valor com 12 zeros:

 

1.000.000.000.000

 

O que é que a dívida americana nos pode interessar?

É muito simples: se os americanos não puderem pagar a sua dívida, ou pelo menos amortiza-la regularmente, toda a economia mundial sofre, até chegar a nós aqui em casa.

O que podemos fazer? Nada.

Somos todos responsáveis, cada um na sua infinita insignificância.

Basicamente, responsáveis por consumir de mais. Quem é que resiste a um iPhone? O iPhone é feito na China, porque só com os salários de miséria pagos na China é que é possível um iPhone chegar ao consumidor final (português ou americano) por 500 euros.

Quem diz um iPhone diz um berloque de plástico ou um guindaste industrial. Com poucas excepções, tudo o que adquirimos de duráveis e muitos dos consumíveis é fabricado na China.

Como não temos dinheiro para pagar, a China tem financiado o nosso consumo: empresta-nos o dinheiro para comprarmos os produtos deles ao preço da uva mijona.

A nossa única safa é que têm de continuar a dar-nos crédito para nós podermos continuar a comprar – senão a economia deles desaba.

 

São preocupações de mais para uma pessoa singular, cujo universo monetário não passa os três, quatro zeros. Já não bastava sentirmos o peso da hipoteca da casa e da dívida das férias do ano passado; não chegava termos de sofrer com a dívida nacional, que tem entre seis e nove zeros; não, não era suficiente.

Agora temos de ficar acordados por causa de uma dívida com 12 zeros!

publicado por Perplexo às 09:12
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De Pirron a 8 de Agosto de 2011
Acho graça ao pensamento: Se não venderem o berloque, a economia deles desaba. Acho piada por continuamos a enterrar a cabeça na areia e não querermos ver a realidade. Olhar para a china, como vendedores de berloques, é não estar atento ao que se passa no mundo global, é esperar que a montanha desabe para perceber, que afinal não devíamos viver no sopé da mesma. Até parece que foi com a venda dos berloques que a china comprou a dívida dos E U. Olhar para a china nesta prespectiva, é estar na frente de um gigante e só ver as unhas do pé. Já é tempo de olhar para o mundo de uma forma diferente, atenta, com olhos de ver. A china neste momento, está a criar as bases para dominar o mundo. E embora não me queira alongar mais, posso dizer-vos, que não é com o negócio dos berloques.
De Anónimo a 8 de Agosto de 2011
Até que enfim alguém faz um comentário inteligente!
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