Segunda-feira, 17 de Outubro de 2011

As confusões da Indignação

 

No sábado, os Indignados tiveram os seus dez minutos de glória frente às câmaras. Em Lisboa, Porto e outras cidades portuguesas, e em mais 80 cidades da civilização ocidental.

Em Portugal nem as manifestações foram grandes, nem os seus slogans marcaram. Houve até duas confusões, gloriosamente ampliadas e consagradas pela comunicação social.

 

A primeira: que as manifestações em Portugal eram de solidariedade com o movimento mundial da Indignação, começado em Wall Street há duas semanas. As televisões se encarregaram de mostrar o que estava a acontecer noutras cidades, especialmente naquelas onde houve pancadaria forte, Londres e Roma. O verdadeiro motivo das nossas, que era a indignação com o que se passa connosco, ficou diluído.

Quem ganhou com esta situação: o Governo em particular e o sistema politico português em geral. O Governo e o Regime, por um lado são mesmo democráticos, deixam as pessoas ventilar a sua “justa indignação”, e por outro não se sentem minimamente ameaçados com esta indignação.

 

A segunda: que a breve cena de empurrões que ocorreu nas escadarias da AR foi porque a polícia queria socorrer um manifestante que desmaiara. “Um mal entendido”, disse o porta voz da polícia. Apesar da cena ter passado em directo nas tvs, ninguém contestou. Mais um ponto para o Governo, que não ficou com o ónus de ter reprimido pacíficos manifestantes.

 

Outra situação favorece o Governo: a maioria dos manifestantes, pelo menos os que apareciam nas câmaras, eram jovens estudantes, okupas e anarcas, vociferantes como os jovens devem ser. Não se viram as famílias com carrinhos de bebé e os pacatos cidadãos de meia idade que em Março tinham enchido os logradouros da Liberdade, em Lisboa e Porto. Portanto não estava lá uma verdadeira representação da classe média trabalhadora e micro-empresária que está a ser completamente esmagada pelas opções do Governo. Ainda não é a revolta tão temida e dada como certa pelos poderes constituídos.

 

Os verdadeiros atingidos pela desgraça que nos está a cair em cima não se manifestaram; as verdadeiras razões porque se deveriam manifestar não ficaram claras. É que não é apenas o empobrecimento da classe média e o fim do Estado Social que precisa de ser recusado; o que tem de ser denunciado é esse empobrecimento paralelamente à manutenção de todas as gorduras do Estado (institutos públicos, fundações, empresas estatais, etc.) e à ausência de punição para os que roubaram, ou foram incompetentes, e nos deixaram neste estado. Os incompetentes não serão indiciados, os corruptos continuam à solta. O sistema judicial foi montado cirurgicamente para que nenhum destes prevaricadores possa ser condenado, muitas vezes sequer indiciado. Ou as leis não o permitem, ou as normas processuais o tornam inoperante, ou os magistrados não se atrevem.

 

Enquanto uma multidão esfomeada e enfurecida não for bater à porta destas pessoas, conhecidas de toda a gente, o que se passa em Portugal é apenas folclore político, inofensivo e incapaz de mudar o paradigma. Mas talvez isso nunca venha a acontecer.

Os costumes, é sabido, são brandos.

 

publicado por Perplexo às 09:36
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De CAFARA a 17 de Outubro de 2011
Depois de ler o post e ver alguns comentários, concordo com algumas coisas, sim é verdade. Quem sofre com tudo isto não se manifesta, (embora tenha visto na TV alguns beduínos " que nem banho tomam "coitados" a reclamar só porque a TV existe.)
Depois de tanto se falar eu ainda não ouvi nenhum intelectual, dizer onde e como se deveria "cortar" até aqui ninguém é diferente do governo, ou seja sabe que tem de cortar mas não sabem onde. Eu digo-vos, trabalho desde que fui voluntário para a FAP em 1985, nunca tive férias, casei, comprei casa, tenho 2 filhos e nunca ninguém me deu nada. Trabalhei... Poupei... e hoje continuo a trabalhar aos fins de semana, na lavoura, coisa que 10.000 Portugueses não sabe que existe. Eu e minha mulher trabalhamos mais de 10 horas por dia, já fomos despedidos, a empresa onde a minha mulher trabalhava faliu e lá se foram meses de trabalho e subsídios , nós sabemos o que é sofrer quando muitos energúmenos gozavam férias no Algarve com dinheiro do banco. Nós pedimos dinheiro ao banco para comprar casa e esta está quase paga 15 anos depois (o credito era para 30 anos), depois de ser despedido constitui uma empresa que também atravessa dificuldades mas ainda não desisti e sabem porque? Porque nunca ninguém me deu nada e até o meu pai só me dava se eu merecesse. Agora existem os indignados, e eu pergunto indignados porquê? Porque estudaram nas universidades publicas pagas com os meus impostos? Porque tem um RSI suportado com os meus impostos? Porque tem um apoio ao arrendamento suportado com os meus impostos? Porque tem um sistema de saúde suportados pelos meus impostos? Porque querem que o estado lhes dê um emprego, suportado pelos meus impostos? Trabalhem peçam terra e cultivem-na nas horas vagas em vez de impedirem os outros de trabalhar, produzam... lembrem-se daquele senhor que foi á procura de trabalho e disse ao possível empregador que estava ali para lhe dar lucro e não á procura de emprego. Esse é o espírito trabalhar, render...só assim se consegue alguma coisa. Este povo filho de uma Nação Valente e Imortal, está a deixar revoltados os seus Egrégios Avós, esses que nos fizeram chegar á vitória da liberdade, da paz e do pão. Basta! Levantem hoje de novo o nosso Esplendor , levantem-se das Brumas do desemprego, garantam a vitória. Esqueçam aqueles que vos oferecem doces, é para vos enganarem "tolos". Eu sou um indignado por saber que existem indignados sem saber porque?
Imaginem se algum desses indignados, fosse lançado no alto mar com intenção de os eliminar, alguma vez eles iriam cruzar os braços e esperar morrer afogados, como era inevitável ? Não eles lutariam até que a morte os vencesse, nunca desistam de deixem-se de americanices e lembrem que são lusitanos e o nosso Hino é realmente importante para aumentar o nosso ego.
Tenho dito.
De susana a 17 de Outubro de 2011
Cafara, foi o melhor comentário que li até hoje.
Trabalhem, trabalhem, está tudo habituado ao facilitismo, ponham-se a mexer e produzam, mesmo que seja o que menos gostam de fazer mas ao menos sejam produtivos. Tenho 35 anos não sou formada, porque nunca tive pais com dinheiro para me pagar os estudos, mas nunca fiquei desempregada nem de baixa, tenho 2 habitações tenho carro, passo ferias......em Portugal , pois não sou muito viajada nem conheço o mundo como a maior parte das pessoas que conheço, mas amealhei e tenho os meus pertences, tenho uma profissão digna e já tenho mais de 15 anos de descontos. E ainda não desisti de ir para a faculdade, mas fiz o 12ºano á noite e farei a faculdade, mas esta gentinha que curso X e Y e falam como se fossem intocáveis e os coitadinhos pelo amor de deus sabem lá o que é lutar .
De Maria Gonçalves da Silva a 17 de Outubro de 2011
Susana, lindo ler o que escreveu. O que precisamos é ter gente assim, motivada e que não desiste.
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