Sexta-feira, 13 de Janeiro de 2006
Tinha pensado em mostrar perplexidade perante outros assuntos que não a política - hoje até me sugeriram que falasse de literatura e artes visuais, dois temas do meu interesse - mas as oportunidades recreativas do momento político são irresistíveis… Achei uma certa piada ao pequeno “Frente a Frente” entre Ruben de Carvalho e Pedro Ferraz da Costa, na SIC-Notícias - e desta vez reconheço que não fiquei perplexo. O tema foi as eleições, e nenhum deles disse nada de novo, nem fez uma daquelas revelações que nos deixam de boca aberta. O que teve mais graça foi os palpos de aranha em que Ruben de Carvalho se meteu para não admitir, de maneira nenhuma, que Jerónimo de Sousa não tem qualquer hipótese de ganhar, e para afirmar que a campanha do PC tem sido um sucesso acima de todas as expectativas. Ferraz da Costa não teve graça nenhuma, é claro; ostenta sempre uma expressão difícil de sintetizar, mas fácil de perceber: “como é que um tipo tão inteligente, tão perspicaz e tão lógico como eu, consegue viver neste mundo repleto de idiotas, confusos e líricos?” E de facto Ferraz da Costa tem aquela eficiência racional que caracteriza a direita empresarial bem instalada na vida, sem dificuldades em desmontar os lirismos da esquerda trabalhadora com o nível de vida em queda livre, e mesmo a dialética dos intelectuais estalinistas. (Convém não esquecer que Ruben era o director do Avante quando o jornal não publicou os resultados das eleições, por não condizerem com as previsões do partido… E também podemos lembrar que Ferraz da Costa foi o mentor dessa luminária mediática que dá pelo nome de Manuel Monteiro.) Mas então, o ex-patrão da CIP, já muito seguro com as sondagens que dão sistematicamente a vitória de Cavaco à primeira volta, teve um momento lapidar. Primeiro disse que é bom que este período de muitas eleições acabe depressa, para a actividade económica não sofrer mais perturbações. Ruben, pegando logo no gancho anti-democrático, retorquiu: “então você acha que as eleições são uma perturbação da vida do país?” Ferraz da Costa abriu bem os olhos, encarou o outro de frente, e atirou: “são sempre!” A seguir ambos disseram mais coisas, mas o recado estava dado. Bom era no tempo da outra senhora, quando as pessoas podiam até apanhar pancada da polícia durante as “eleições”, mas pelo menos não eram perturbadas tão amiúde com solicitações ao voto; assim tinham mais tempo para trabalhar, com grandes resultados para a economia nacional.