Aqui há poucos dias, passava da meia-noite quando um tipo de má pinta, bêbado ou junquie, mas com mais pinta de bêbado, embirrou com um ar condicionado abandonado no passeio, mesmo em frente das minhas janelas, e começou a agredi-lo com violência. Durante mais de duas horas estraçalhou o aparelho, apenas com as mãos e as peças que arrancava da própria máquina, logo convertidas em martelos e alavancas. Tanto eu como os vizinhos telefonámos para o 112, que disse que ia avisar imediatamente a esquadra da zona, exactamente a um quarteirão daqui. O homem acabou por se cansar, mas a polícia não veio.
Dois dias depois começou a demolição do prédio que dá para as nossas traseiras e pátio. O empreiteiro, levado pelo mais legítimo desejo de gastar o menos possível, só colocou andaimes com rede de protecção na parte da frente – certamente porque os fiscais devem andar por aí a ver se ganham o deles, muito legitimamente. Iniciada a demolição, as pedras choviam como granizo aqui no pátio, algumas suficientemente grandes para matar uma vaca. Caiu mesmo uma enorme conduta de exaustor, arrancada por um homem pendurado na dita, sem capacete nem arnês, a uns dez metros de altura. Mas outro homem veio polidamente pedir a chave do pátio, e levou-a às costas. Telefonei para a C.M.L. e fui muito cortezmente atendido por uma jovem que pareceu interessar-se pelo problema, percebê-lo perfeitamente e até estar a visualizar a situação. Disse que ia mandar proceder imediatamente. Até hoje não aconteceu nada. Se a C.M.L. demorar mais uma semana, quando chegarem o prédio já desapareceu, grande parte dele para o nosso pátio.
Esta noite a E.P.A.L está à nossa porta com um martelo pneumático abaixo do piso da rua, a furar uma placa de cimento que eles não esperavam que fosse tão forte. Como é que eu sei que não esperavam? Eram onze da noite e fui lá falar com o Sr. Engenheiro.
- Então, isto é uma emergência?
Olhou para mim, desconfiado.
- É, é uma emergência.
- Mas não estão a trabalhar para o metropolitano?
(O metropolitano vai passar por aqui, e a EPAL anda há meses a desviar as condutas.)
- É para o metropolitano mas é uma emergência.
- Mas não estou a ver nenhuma água a jorrar.
- A emergência é que não esperávamos que a placa fosse tão forte.
Conversa puxa conversa, queixou-se que estavam quatro horas atrasados, e jurou que acabava daí a uma hora. Neste momento são duas da manhã e o martelo pneumatico não descansa. Nem eu, evidentemente.
Não vou estar aqui a tirar a moral da história. Serviços municipais, empresas municipais… Para bom entendedor, três comentários bastam.