É verdade, não tenho escrito grande coisa. Mas também, com certeza que não querem que me ponha para aqui a perorar sobre o descalabro do Iraque, a bandalheira do executivo municipal de Lisboa ou o grande best-seller do ano, "Eu, Carolina". Tem-se dito tanto sobre estes momentosos temas que é difícil acrescentar mais alguma coisa. Mas não resisto a umas pequenas notas.
Sobre o Iraque, acabei de ler uma longa matéria no New York Times sobre o "sistema judicial" do país. Os americanos fazem detenções atabalhoadas, no calor da refrega e acossados pelo medo, sem sequer falarem a língua dos suspeitos, que depois entregam aos buracos sem fundo das prisões iraquianas, onde ficam dois anos sem ver um advogado ou a família. Os julgamentos, feitos em tribunais iraquianos, duram 10 minutos e os acusados não falam com o advogado de defesa, que não viu o processo e apenas pede justiça. Penas de 30 anos de cadeia, condenações à morte, fugas espalhafatosas - há de tudo, menos a mais elementar justiça.
Quanto à Câmara Municipal de Lisboa, parece um recreio com crianças mal educadas a gritar umas com as outras, enquanto a cidade se afunda no caos. Como se pode ver no triste espectáculo do Prós e Contras, o problema não é os vereadores terem ideologias diferentes; o problema é que se detestam e têm as suas agendas próprias, que por acaso não coincidem com a agenda dos lisboetas.
Finalmente, o livro da Carolina, que acaba por ser uma história antiga: a prostituta que denuncia o seu gangster porque ele a largou. Tem dois méritos: primeiro, levou a que tipos que normalmente só lêem A Bola leiam um livro (segundo certas teorias, basta ler o primeiro para criar hábitos de leitura e passar a ler outros, progressivamente melhores...); e fez com que o ministério público se veja na obrigação de investigar casos encerrados por "falta de provas". No entanto, e apesar da boa escolha de Maria José Morgado (que pela sua sede de protagonismo não deixará de agir), não acredito que os principais protagonistas sejam condenados. Alguns intermediários, talvez. E a Carolina terá de fazer como o seu colega Saramago, emigrar para Espanha para viver em paz.