Domingo, 23 de Setembro de 2007

O bedelho no sushi

As "autoridades de Bruxelas" estão a debruçar-se sobre o momentoso problema da comida japonesa. Trata-se de peixe cru, como sabem os apreciadores — e o peixe cru pode ser perigosíssimo para os europeus, cada vez mais desinfectados e higienizados, a perder rapidamente todos os anti-corpos naturais dum organismo em estado selvagem (ou africano, ou sub-desenvolvido, etc.)


As "autoridades de Bruxelas" são, como sabem os europeus, um crescente grupo de funcionários públicos imperiais, a viver maravilhosamente à custa de todos nós, que se dedica a legislar sobre tudo e mais alguma coisa, com aquela persistência e autismo de quem não tem nada de útil a fazer. Já quiseram proibir os cascos de carvalho usados para envelhecer o whisky (são cascos de conhaque francês reciclados, portanto sugeitos a uma poluição perigosíssima), as colheres de pau (porosas, passam de tacho para tacho, um horror) e muitas outras parvoices semelhantes de que felizmente não nos lembramos. Mas lembramo-nos de que há pouco tempo passaram as garrafas de "spirits" (vodka, gin, whisky, etc.) de 750ccm (os sete decilitros e meio da ordem) para 700ccm, uma medida fundamental que decerto terá diminuido muito o grau de alcoolismo dos europeus.


Agora, o sushi. Parece que só vai ser possível os restaurantes japoneses usarem peixe congelado, homegeneizado e desinfectado, garantido sem qualquer sabor ou consistência que se veja — mas infinitamente puro, isento daquelas horríveis bactérias que há milhares de anos matam os japoneses.


Na mesma área, também ouvimos qualquer coisa sobre as "autoridades de Lisboa" estarem igualmente preocupadas com o assunto, referindo-se concretamente ao problema do bio-terrorismo.


O bio-terrorismo!


Não nos tínhamos lembrado disso. Além dos perigos do mundo micro, ainda temos as ameaças macro. Num país assolado pelo terrorismo como o nosso, em que rebentam bombas diariamente e se raptam pessoas a um ritmo horário, o bio-terrorismo é uma ameaça séria, que requer ponderação. Pior do que as gangues que andam aos tiros em Lisboa e Porto, pior do que a inoperância do sistema judicial, pior do que... (a lista é tão extensa que nos arriscamos a perder a ideia inicial). Ah, sim, o bio-terrorismo.


Portanto, as autoridades superiores, lá em Bruxelas, e as do meio, cá em Lisboa, estão decididas a acabar de vez que a porcaria do sushi, para não falar dos perigos terroristas iminentes.


Onde quero chegar?


Bem, quero chegar ao restaurante japonês mais próximo (o Aya) para comer algo que tenha sabor, enquanto posso.


E estava a pensar nisto, imaginem: quando os europeus chegaram à América Central, destruiram (inadvertidamente) os astecas e maias com o bacilo da varíola. Uma civilização inteira foi para o galheiro porque não tinha defesas. Quando os marcianos invadiram a Terra, eram imbatíveis, mas acabaram por morrer com os nossos germes, que desconheciam, ou haviam eliminado há muito. Uma civilização avançada foi para o galheiro porque não tinha defesas.


Ora venha lá um tako-su e uma dose de toro, sff.


 

publicado por Perplexo às 18:34
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