Há muito tempo que não escrevia aqui porque,como disse a certa altura, a minha capacidade de ficar perplexo se esgotou - jánada mais surpreende, de tão surpreendente que tudo é.
Contudo, a situação tem uma capacidade impressionante de se ultrapassar a si própria; ao caricato sucede-se e o dramático, e ao dramático o ridículo, e ao ridículo o trágico, e assim por diante, até acabarem os adjectivos, os superlativos e as hipérboles.
Esgotada a perplexidade "até às últimas consequências", talvez a palavra que mais se aplique seja"ultraje". É ultrajante para todos nós, pessoas normais e trabalhadoras, o espectáculo politico que se oferece diariamente a quem tem tempo e paciência abrir a boca ao abrir os jornais.
Estou a pensar no futuro, nas eleições do ano que vem, eleições essas a que concorrem todos os partidos com assento parlamentar e mais alguns que não têm sequer onde se sentar, mas que provavelmente seriam mais merecedores de atenção.
E estou a pensar no cenário que se apresentará, caso o PSD concorra com algum dos candidatos que se estão apropor, ou a propor que alguém os proponha. Não há palavras para descrever esta gente, mas contudo vou tentar, para ver se pelo menos descarrego um pouco da fúria surda que me assola.
Sai Luis Filipe Menezes, um homem que em seis meses a única coisa que disse foi queixar-se do governo e o que se sabe ter feito foi cometer gafes umas atrás das outras. Não se lhe conhece uma ideia,não se lhe assenta uma teoria, não se lhe conhece uma prática. É o nível municipal elevado a nível nacional. Mas afinal talvez não saia, e se trate apenas de uma manobra estilo Alberto João "Mugabe" Jardim: promover eleições para ganhar mais poder. Ou seja, utilizar um processo democrático para negar a própria democracia.
E, por falar no nosso Mugabe, parece que também ele será candidato. Tem até quem o apoie no partido, e não é só a clientela da Madeira. Só a ideia de que alguém possa considerar Alberto João como passível de ser Primeiro Ministro de Portugal já é de por os cabelos em pé. A ideia de que, num cenário ridículo, ele pudesse ganhar — nunca se sabe as voltas que o sistema pode dar, olhe-se o Santana Lopes — é aterradora. É também, uma volta ao passado salazarista, com umas pinceladas de pantomina contemporânea. Não sei sepoderemos ser considerados Europa numa tal hipótese.
E, por falar no nosso playboy, outro candidato possível é — imagine-se —Pedro Santana Lopes, o homem que não tem pachorra para ler um documento demais de três páginas, mas que tem outra coisa: o mérito de ter encabeçado o pior governo dos últimos cem anos, para não ir mais para trás. (Isto para não falar da pior presidência da Câmara Municipal de Lisboa desque a cidade foi conquistada aos mouros, no século XII.) Ridicularizado por toda a gente, derrotado avassaladoramente nas urnas, continua impávido, agora com tons de velho senador experiente. Por mais que se lhe dê na cabeça, continua sempre em pé, como aqueles bonecos de antigamente.
Mais outro é Manuela Ferreira Leite, uma burocrata feroz, completamente economicista, que já tem no currículo várias prestações barbaras ao nível ministerial. É também a pessoa menos mediática que alguma vez frequentou a media nacional — se for escolhida, isso demonstra o estadod e desespero a que o PSD chegou, pois a população, aterrorizada, jamais a elegeria para alguma coisa.
E, finalmente, Patinha Antão. Mas quem éPatinha Antão, além de ser um homem com um nome ridículo (deus me perdoe, masestas coisas têm de ser ditas) e um ar o mais antigamente que imaginar se possa?
Todos eles, sem excepção, representam o passado— um passado que gostaríamos de esquecer mas que, infelizmente, até pode ser o futuro.
Quem se deve estar a rir às bandeiras despregadas é Sócrates. Passou incólume por todos os escândalos relacionados com o seu carácter, convive com um Presidente praticamente correlegionário e não tem inimigos à vista. Não admira que dia a dia se mostre mais arrogante.
E nós? Bem, nós podemos sempre emigrar para a Turquia, ou a Albânia, assim que entrarem na UE. Pior não será, ou pelo menos não vamos estranhar nada.