Quinta-feira, 5 de Março de 2009

Miguel Ribeiro e Silva volta do Além

 A 13 de Dezembro publiquei um post, intitulado “O futuro do jornalismo?” em que falava de um ex-empregador meu, Miguel Ribeiro e Silva. O post está lá, na posição cronológica respectiva mas, para que não tenha de procurar, reproduzo aqui a parte que se lhe refere:

 

“Quando trabalhei na Edimpresa (que na altura se chamava Abril/Controljornal) houve uma época em que o Director-Geral era Miguel Ribeiro e Silva, um gestor muito inteligente e excêntrico — um “elefante”, no vocabulário zen-empresarial do livro de Stanley Bing. Fez um trabalho extraordinário; em poucos anos, a editora, que estava falida e à deriva, enterrada numa cave onde se ouviam os esgotos que nos passavam por cima da cabeça (entre outras situações, mais graves para o trabalho) passou a ser uma empresa organizada, computorizada, bem instalada e a produzir uma série de revistas com consistência. Logo a seguir entrou num período de expansão com novos títulos, alguns muito bem sucedidos — e outros menos, mas isso quer dizer que se apostava em projectos, havia uma postura pró-activa.

Mas não é a estória da Edimpresa que quero contar. O que vem para o caso é que o Miguel Ribeiro e Silva detestava jornalistas, que achava pouco confiáveis (como funcionários), desequilibrados e excessivamente bem pagos para o que faziam.

O sonho dele era fazer revistas sem jornalistas.

Tentou várias vezes, de várias maneiras (que não vou contar, embora desse para um livro). Na altura achava-o um guru empresarial, mas agora vejo que foi um precursor no mundo rarefeito e frenético da comunicação social.”

 

Depois de sair da Abril, nos idos de... deixa ver... 97, 98, por aí, nunca mais o vi. Soube que fora para a Cofina, depois para a Lusomundo, depois nada mais. E agora, de repente, por causa de uma entrevista que dei ao “Sol” (a propósito do lançamento do “Pesquisa Sentimental”) eis que Miguel Ribeiro e Silva reaparece! A partir do Sol pesquisou, chegou aqui ao Perplexo e leu o post. E mandou-me o comentário abaixo, que publico com satisfação. Ah, sim, combinamos ir almoçar.

 

 

 

O meu amigo Zé Couto Nogueira gosta de escrever - é mesmo um escritor encartado, com obra publicada – e, como qualquer escritor que se preza, tem aquela tendência natural para confundir a ficção e a realidade e para utilizar todo o tipo de hiperbolismos e exageros literários que não deslustram.

Claro que a realidade não é bem assim, e o facto é que “o Miguel Ribeiro e Silva NÃO detestava jornalistas, que NÃO OS achava pouco confiáveis (como funcionários), NEM desequilibrados e OU excessivamente bem pagos para o que faziam.”

Algumas das pessoas com quem o Miguel Ribeiro e Silva mais gostou de trabalhar são jornalistas, referindo-se para ilustrar a Cristina Cordeiro, o Cáceres Monteiro, o João Marcelino, o Mário Bettencourt Resendes, a Isabel Fragoso, a Maria de Lurdes Vale, o Emidio Rangel, o Thomaz Souto Correa, o Laurentino Dias e o próprio Zé Couto Nogueira, só para citar alguns mais conhecidos e com quem teve o previlégio de conviver mais de perto. O Miguel Ribeiro e Silva achava, isso sim, que os jornalistas não são todos da craveira dos mencionados, que uma parte substancial deles tomava a nuvem por Juno e que quase todos os operadores da comunicação social, de patrões - o Zé Couto Nogueira lembra-se, com certeza, que ele tambem não gostava muito de alguns destes - a jornalistas não perceberam atempadamente que o mundo (da comunicação social) como o conheciamos se aproximava do abismo.

O José Couto Nogueira não se esqueceu com certeza do Thomaz dizer que a geração dos nossos filhos já leria tudo na net. Talvez por isso, o Miguel Ribeiro e Silva começou por abraçar entusiasticamente o projecto directo.pt, depois  o projecto Cofina Media/Cofina.com, até o Paulo Fernandes ter dito numa prematura entrevista que 'estava farto da internet'.  Finalmente, cansado de 'pregar no deserto', o Miguel Ribeiro e Silva abraçou o projecto 100% mercenário da PT/Lusomundo, que pôs fim à sua carreira na comunicação social, quando o ex e futuro assessor de imprensa do nosso PR foi nomeado, contra a sua opinião, director do DN.

Aqui, sim, o Zé Couto Nogueira teve razão: o Miguel não gostava de todos os jornalistas ... nem dos que os manipulam, ou pressionam por razões que não são estritamente de gestão, ou da arte (e profissão), de bem fazer jornais e revistas.

Estou certo de que o Zé Couto Nogueira e o Miguel Ribeiro e Silva recordarão sempre com saudade a vivência dentro do grupo brasileiro Abril, a que ambos orgulhosamente pertenceram durante os oito anos em que estiveram juntos na Editora Abril Portugal, depois A|CJ, e que foi sempre um respaldo enorme para a defesa da independência jornalistica que, aqui e no Brasil, sempre deve marcar a profissão e o negócio.

M.R.S. 

publicado por Perplexo às 08:57
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