Segunda-feira, 28 de Março de 2011

A atitude da senhora

Merckel no pódio, no Parlamento alemão. Não no Parlamento Europeu, ou em alguma situação relativa às instituições europeias. Não. Na assembleia legislativa dos alemães, onde se trata de assuntos que à Alemanha dizem respeito.

“Não chega Portugal indicar-nos quais as suas metas. Não chega que nos diga que vai atingir 4,3% de défice em 2011, 3% em 2012 e assim por diante. Portugal precisa de nos dizer como é que vai atingir esses valores. Precisamos de saber quais as medidas concretas.”

(Estou a citar de cor, podem não ser estas as palavras à letra. Mas o sentido e o tom são exactos).

É ao que chegamos. Os nossos números, os compromissos que temos de assumir, têm de ser aprovados pelo parlamento alemão.

No mundo oficial, do Governo, do PS, e agora do PSD, age-se como se se falasse de igual para igual com a Sra. Merkel. Mantém-se a ficção da igualdade entre estados.

No mundo da comunicação social critica-se os políticos por baixarem as calças ao poderio germânico. Os comentadores falam da vergonha da perda de soberania, do estado a que Sócrates reduziu o país – uma injustiça, pois a redução do país é muito anterior a Sócrates.

No mundo dos blogues, redes sociais e comentários às notícias, a ralé dá vazão ao seu ódio pela Merckel, quem é essa cabra que acha que manda nos outros, nazi, etc. Também se sugere, ingenuamente, que não paguemos o que devemos. Que se lixem os credores, esses bandidos gananciosos.

Mas não é nada disso.

Por mais que os políticos queiram parecer igualitários com a Sr. Merckel, salta à vista que não são. Ela manda chamar ou, quando não manda, Passos Coelho vai por iniciativa própria apresentar-se.

A comunicação social não leva em conta a prática da real politik. Não há cá vergonhas, é preciso é que a Alemanha nos ampare. Se isso implica ter relações com uma mulher desagradável, do mal o menos.

E ainda tem mais pequena razão a blogoesfera e os comentaristas anónimos de maus fígados.

A senhora Merckel não é nenhuma cabra.

Nós é que nos colocamos a jeito. Nós é que gastamos mais do que devíamos – as famílias, as empresas, o Estado. Desde que o dinheiro da Europa começou a entrar que o temos vindo a desperdiçar alegremente, sem produzir adequadamente. Não estamos endividados para lá do possível porque a senhora Merckel é nazi; estamos porque nos endividamos sozinhos, sem que fosse preciso empurrarem-nos.

E não há hipótese de não pagarmos. Continuamos a precisar de dinheiro, se não pagarmos ficamos sem crédito e morremos de fome. Tão simples quanto isso.

É fácil arranjar culpados para as nossas malfeitorias.

Difícil é pagar as dívidas. E ver aquela mulher pequenina e desagradável naquele pódio a ditar o que temos de fazer.

 

publicado por Perplexo às 10:13
link do post | comentar | ver comentários (3) | favorito

mais sobre mim


ver perfil

seguir perfil

. 23 seguidores

Veja também:

"Pesquisa Sentimental"

 

 

pesquisar

posts recentes

Concurso de blogues

Voltarei

Silêncio...

Horta e Alorna

A Selecção, minuto a minu...

Cosmopolis

Millôr Fernandes

A maçã chinesa

Transigir ou não transigi...

EDP, o verdadeiro escânda...

arquivos

Janeiro 2013

Julho 2012

Junho 2012

Março 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Janeiro 2008

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Maio 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

subscrever feeds