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O TÍTULO, "DADOS PRIVADOS À VISTA DO MUNDO" TAMBÉM FOI MODIFICADO PARA REFLECTIR A RETIFICAÇÃO.
A notícia é um fait divers mas teve alguma atenção aqui em Portugal e nos Estados Unidos: um antigo fugitivo à justiça de lá foi apanhado por cá ao fim de 41 anos!
À primeira vista é apenas curioso.
Os factos: em 1962 George Wright foi condenado a 15-30 anos pela morte de um empregado de estação de serviço durante um assalto, em New Jersey. Em 1970 fugiu da prisão, juntou-se ao grupo Black Liberation Army e em 1972, juntamente com outros militantes, raptou um avião da Delta que foi levado para Argélia. A partir daí desapareceu.
Descobriu-se agora que vivia há mais de vinte anos em Almoçageme, com uma mulher portuguesa e dois filhos. Trabalhava nisto e naquilo, fala português perfeitamente e a comunidade, que o julgava africano, gosta dele.
Segundo o Huffington Post e o New York Times, as “autoridades americanas” identificaram-no pela impressão digital no BI português, onde figura como José Luís Jorge dos Santos. Comprovada a identidade, aguarda na prisão, em Lisboa, que os papeis de extradição sejam processados. Fim da história.
Pois, à primeira vista, curioso.
À segunda vista, impõe-se uma pergunta: como é que uma “força tarefa” dos U.S.Marshals deu com a impressão digital no BI do José Luís?
A resposta só pode ser uma: o Justice Department tem acesso à base de dados do Ministério da Justiça, e não só tem acesso como se deu ao trabalho de a comparar com as bases de dados de criminosos americanos – não desde ano, não de há cinco anos, mas de há trinta e tal anos! A polícia americana tem estado entretida a comparar, tipo CSI, os milhões de impressões digitais dos arquivos portugueses com os milhões dos arquivos americanos, um a um.
(É interessante lembrar que nos Estados Unidos não existe Bilhete de Identidade e mesmo a carta de condução não tem impressão digital. Só se pode tirar as impressões digitais de um cidadão se for suspeito de alguma coisa e detido.)
Ninguém é a favor dos criminosos ficarem impunes, só porque tiveram a esperteza de fugir para o fim do mundo. Mas ninguém pode ser a favor da nossa base de dados nacional ser espiolhada por um Estado estrangeiro, amigo ou inimigo.
Tanta conversa da Comissão Nacional de Protecção de Dados e afinal os dados foram globalizados!
Conclusões:
Os delinquentes portugueses ao nível dos milhões de euros têm impunidade vitalícia, mas os americanos nunca mais têm descanso na vida;
A CNPD é mais uma comissão da tanga, que não serve para nada;
A nossa soberania só existe nos nossos sonhos.
RETIFICAÇÃO
Novas informações que recebemos permitem traçar um histórico diferente e chegar a outras conclusões.
George Wright ligou para uma irmã nos Estados Unidos, a partir do seu telemóvel. O telefone da irmã estava sob escuta e isso permitiu traçar a origem em Portugal. As autoridades norte-americanas enviaram uma carta rogatória para as autoridades portuguesas, para que procurassem o autor do telefonema. A carta incluia os dados do processo, inclusive as impressões digitais. A partir destas, foi fácil a PJ encontrar o portador do BI.
Portanto tudo legal, segundo esta fonte. Não temos razão para supor o contrário.
Por outro lado, em Portugal as impressões digitais só começaram a ser digitalizadas há poucos anos, e portanto o BI de José Luis certamente que não está incluido.
Enganámo-nos. Mas que era uma bela teoria da conspiração, era!
E continuamos a achar que a CNPD não funciona, mas por outras razões...