“Os Homens da Luta são uma evidente paródia aos homens da luta. Mas os homens da luta estão radiantes com a vitória dos Homens da Luta”, escreveu
José Teófilo Duarte, com uma certa graça, no seu Blogoperatório, logo no dia seguinte à surpreendente vitória da dupla no Festival da Canção.
A vitória é surpreendente apenas porque não se esperava que saísse alguma coisa de minimamente significante de um concurso que há mais de quarenta anos sempre primou pela insignificância – musical e intelectual. Deve-se à votação em massa do público, e essa votação só pode representar uma atitude política, e não estética. Musicalmente, a prestação dos Homens da Luta é tão má como todos os outros concorrentes, senão pior do que a maioria. O que atraiu os telespectadores foi a contestação expressa na letra e na atitude. O pastiche que os Homens da Luta fazem dos tempos do PREC, que eles sempre utilizaram e que irritava tanto a esquerda como a direita, de repente passou a ser uma piada de bom gosto.
Jel e Falâncio , atribuindo-lhes inteligência que certamente têm, sempre souberam que andam a fazer troça do radicalismo desses anos revolucionários, usando-a para fazer troça do descalabro em que a revolução caiu. Neste aspecto pode-se dizer que eles são moderníssimos, ao usar uma espécie de meta linguagem. Andam a gozar com toda a gente, da esquerda à direita, porque para eles o humor é provocação e não conhece limites, nem ideológicos nem éticos. Por outro lado, como muito bem diz Carlos Vaz Marques, “estão a falar da nossa situação actual de uma forma de tal modo irónica que dificilmente poderá vir a ser apropriada por qualquer segmento político organizado”. É isso mesmo. Como Patty Smith, eles afirmam “outside is the side I take”.
A situação é muito clara: as pessoas andam tão desesperadas e irritadas com o que se está a passar no país que qualquer atitude pública de crítica tem imediatamente grande projecção e provoca ondas de choque – na simpatia do público e na interpretação/apropriação dos intelectuais.
A direita não representada na AR (nacionalistas, fascistas, monárquicos integralistas, ultra-católicos) gosta dos ataques ao regime republicano democrático. E a esquerda igualmente sem representação parlamentar (que não se identifica com a rigidez ideológica do PCP e do BE) aprecia as críticas à inoperância e incompetência da governação.
Já no ano passado os Xutos e Pontapés tinham inadvertidamente disparado essa veia contestatária com a sua “Sem Eira Nem Beira” – e que só não teve seguimento porque eles, cobardemente, se apressaram a desmentir o óbvio, dizendo que o “engenheiro” da letra não era o “ingenheiro” da vida real.
Há um mês foram os Deolinda, e as ondas de choque ainda se estão a expandir – não se sabe até onde. E agora os Homens da Luta vêm alargar as queixas sectoriais dos jovens à rasca à população de todas as idades.
Os políticos de serviço já perceberam o perigo e usam a lógica mais básica: as atitudes contra o status quo são fascistas. Mas o espantalho do fascismo não assusta ninguém, porque é evidente que não existem nem condições nem personalidades para tornar viável uma solução tão estúpida. O que as pessoas querem é uma República Democrática VERDADEIRA, com melhor distribuição de sacrifícios e rendimentos e a punição dos corruptos e dos delinquentes económicos.
Ninguém tem uma solução para o impasse, e portanto toca a cantar a ver se com chacota e ironia se vai lá. É exactamente o que sugere o título da música da dupla: “Luta é alegria”. E o que propõe a letra: “Luta assim não dá, vamos mas é trabalhá”. A ver vamos.
De Alfaromeo a 7 de Março de 2011
Gostei muito da canção vencedora e, sobretudo, da actuação. Retrato fiel do país em que vivemos, com empresas de televisão exclusivamente preocupadas com as suas audiências. Se alguém pensar em criar um novo partido político, aqui está um possível grupo "Tiririca" para levar mais uns tantos especialistas das doutrinas partidárias para os poleiros da Assembleia. E é de aproveitar agora , enquanto os que lá estão , embora preocupados com as dificuldades do país, mesmo assim, rejeitam a redução de lugares
De Carla a 7 de Março de 2011
Pertenço a esta geração, que se diz ser "à rasca".
De facto, estatisticamente, nunca Portugal teve tantos jovens licenciados, mas também devemos a isso há proliferação do ensino, sobretudo o ensino privado que oferece cursos em menos tempo, diga-se em tempo record, que no público. Veja-se o exemplo de Direito leccionado na Universidade Autónoma (3 Anos). Caso para se dizer que todas essas Universidades que têm licenças, que não se sabe bem como, atrevo-me a afirmar que não deveriam existir, para não acontecer situações parecidas com a Universidade Moderna, Independente e por aí...
Por outro lado, esta geração, sendo a mais qualificada de sempre, está a ir para o estrangeiro e lá é reconhecida, aliás muito reconhecida, e eu não estou a falar de remuneração, porque nessa matéria, todas as gerações sabem que o entrar no mercado de trabalho é sempre difícil, estando os trabalhadores muito mais vulneráveis que os outros. E, por isso mesmo, sujeitos a uma maior precariedade salarial e contratual. Voltando a centrar-me no assunto - emigração, esta geração, que lá fora ganha prémios de mérito que trabalha com os profissionais mais competentes do mundo em diversas áreas, prefere sair deste país, que nada beneficia os jovens, aliás em muitos sectores de actividade só se ouvem argumentos do género: " estes jovens sempre tiveram tudo", " no nosso tempo é que era a sardinha tinha que ser dividida por 4 pessoas", etc, etc... Graças a Deus já não vivemos nesse tempo, quero pensar que o tempo da ditadura acabou, que nos abrimos ao Mundo, mas também nos abrimos a Nós, desenvolvemo-nos e as necessidades do país, do Povo mudaram!
Por isso não me venham cá com palavreado porque a situação chegou a este ponto por culpa vossa ( das gerações anteriores) que começaram a viver acima das suas possibilidades! E agora o fardo irá ser nosso porque nós, os nossos filhos e os nossos netos, que ainda não nasceram já estão endividados até à ponta dos cabelos. Não me vejam falar em marasmo juvenil que eu falo-vos em ganância!
Fica uma ideia, em vez de criticarem, metam-se no lugar dos jovens e também no lugar dos pais dos jovens dessa geração, talvez fiquem surpreendidos com as respostas.
Pelo menos cantar é fazer alguma coisa e se tantas pessoas votaram, e que eu saiba os televotos ainda não são manipulados, 3 chamadas para o mesmo número), o povo decidiu e está a começar a mexer-se, a sair à rua e se isso vos incomoda assim tanto, façam como dizem aos jovens para fazer.... Mudem de país!
De José Fernandes a 7 de Março de 2011
Tudo o que está acima escrito, está correctíssimo Pena é que a classe política deste nosso País seja tão incompetente, tão ridícula , tão mesquinha que não seja capaz de condenar os criminosos de colarinho branco. Está tão manietada nas mãos de banqueiros, industriais, etc., pessoas sem escrúpulos , onde a ganância/lucro é a palavra chave. Não têm coragem de se sentarem a uma mesa e criar uma orientação em beneficio do Povo, esquecendo a clientela partidária. Por vezes surge-me a pergunta: será que os ex-administradores do BCP , do BPN , o Armando Vara, etc. algum dia vão pagar pelo que fizeram? Qualquer cidadão que seja apanhado a roubar, por exemplo, uma maçã é tratado como um criminoso, ninguém lhe pergunta porque roubou, (se calhar, porque tinha fome, não??). Os Homens da Luta, no meio disto tudo, dizem algumas verdades e por isso incomodam tanto. Curioso é, que há umas boas centenas de anos atrás um homem teve a mesma ideia, Gil Vicente, pode ser que a moda pegue.
De Vitor Esteireiro a 7 de Março de 2011
E NECESSÁRIO QUE TODAS AS GERAÇÕES ESTEJAM UNIDAS, PARA QUE PORTUGAL TENHA UM MELHOR FUTURO, POIS PELOS VISTOS NÃO E SO NESTA GERAÇÃO QUE AS COISAS ESTIVERAM MAL. JÁ O MEU AVO DIZIA QUE ISTO ERA TUDO UMA CAMBADA DE LADRÕES.VIVA PORTUGAL.
De Pedro a 7 de Março de 2011
De acordo com tudo o que disse excepto, "O que as pessoas querem é uma República Democrática VERDADEIRA," eu prefiro uma Monarquia constitucional obviamente Verdadeira.
Tem todo o direito de preferir, Mário. Mas vou-lhe dar um desgosto: as sondagens de opinião dizem que menos de um por cento da população concorda consigo.
De Don Ricardo Corleone a 7 de Março de 2011
A insignificância cultural não é bem desde há 40 anos, é preciso não esquecer que durante o Estado Novo passaram pelo festival grandes poetas como o Ary dos Santos.
Quanto ao tema, penso que com o sentimento de revolta que se vive, não só em Portugal como por todo o mundo e toda a Europa, se os restantes europeus perceberem a mensagem corremos o risco de vencer a Eurovisão!
De Tomás a 7 de Março de 2011
Os homens da Luta são é uma vergonha Nacional.
De Geração Deixa Andar a 9 de Março de 2011
Eu sou da geração do deixa andar... A geração a que pertencem os pais das actuais crianças que rondam os 10 a 14 anos. A geração dos "alunos" filhos de emigrantes que entraram na Universidade com 17/18 anos e que, alguns, ainda lá andam. É o meu caso :) Por isso, porque sou burro e porque vivo á custa do dinheiro do papá, não percebo estas novas "gerações", que, por não nos conseguir imitar, choram... e choram... e fazem como eu. Criticam, mas apresentar soluções... isso? isso? soluções? Para q? Saio da universidade, fico desempregado... se não ficar trabalho 1 ano e fico 1 ano e meio a receber subsidio de desemprego. "à rasca" ??? nãoooooooooooooooooo...
Já agora, perguntem a um licenciado recente a tabuada... ou perguntem quem foi o 6º rei de Portugal! E a culpa é dos politicos??? Não será de quem "fez" o 25 de Abril?
Viva o Mário Soares que nos meteu na C.E.E.
Pediram dinheiro? Agora pagamos todos!!! E Não "BUFA"
José Nogueira, cheguei hoje a este "post" através dum "post" de hoje do Viriato Teles no Facebook. E em boa hora o fiz! Isto, por dois motivos: este texto é uma excelente "síntese analítica" do momento presente, com expoente (previsível) no dia de amanhã, não esquecendo (indirectamente) a colagem que o esquisito movimento «1 milhão na avenida para destituição de toda a classe política». Cumprimento-te por isso! O segundo motivo, é uma questão mais pessoal, isto é, a alegria dum reencontro com alguém com quem convivemos no passado. Depois de Mafra os nossos encontros foram esporádicos e passageiros. Lembro-me de um ocorrido em pleno PREC, num comício da FSP como PRP. Militava eu então no MES e aproveitaste para me fazer fortes críticas de natureza política. Nessa altura o debate político andava muito à volta de ideias e de reflexões sobre projectos de sociedade. Enfim... nunca me arrependi!
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