Domingo, 13 de Novembro de 2011

Quem manda?

António Costa disse-o com as palavras suficientes na Quadratura do Círculo, mas outros comentaristas também já deram pela incongruência: Berlusconi, um primeiro ministro eleito democraticamente, não caiu por ter perdido a confiança dos eleitores mas porque os juros da dívida pública italiana passaram os sete por cento de juros no mercado internacional. Foi também a expectativa de insolubilidade que derrubou a primeiro ministro da Irlanda, David Trimble, em Maio de 2007. Os mercados derrubaram José Sócrates em Junho deste ano e Papandreou a semana passada.

Claro que se pode fazer um histórico político muito mais complicado de todas estas demissões, cada uma delas com características específicas; mas o denominador comum é o facto de governos eleitos pelos eleitores serem derrubados pelos mercados.

 

Os mercados não constituem uma entidade, nem os técnicos que os dirigem estão unidos para agir concertadamente; antes pelo contrário, os vários protagonistas (muitas centenas, talvez poucos milhares) competem entre si, a ver quem fica mais rico. No entanto pode considerar-se “os mercados” como um todo que segue a lei da oferta e da procura e que ganha dinheiro a prognosticar situações que por vezes são o resultado do próprio prognóstico. O que acontece é que “os mercados” não têm normas morais, nem obedecem aos interesses nacionais dos países. São supra-nacionais e, por definição, apolíticos; tanto lhes faz se o país A é uma ditadura ou se o dirigente do pais B é bem intencionado. Se o país C paga bem aos trabalhadores e o país D investe em betão.

O que medem é quando o país deve e qual a sua capacidade de pagar o que deve.

Actualmente, por causa da crise, toda a gente já percebeu este mecanismo, apesar da maioria das pessoas insistir que “os mercados” são maléficos, porque se estão nas tintas para a felicidade dos cidadãos. Mas quem tem de cuidar da felicidade dos cidadãos não são os mercados, são os governos eleitos por esses cidadãos.

 

O sistema é dinâmico, evolui sempre para outra coisa qualquer. A presente crise começou com a desregulação do sistema financeiro norte-americano. Sem controle político, “os mercados” precipitaram-se nunca correria ao ouro e tropeçaram na pressa.

Depois do crash, o poder político devia ter voltado a controlar o sistema financeiro. Estranhamente, não controlou. Aconteceu precisamente o contrário. Há um enorme desequilíbrio, no qual o poder político se tornou dependente dos resultados financeiros. Agora são os mercados que mandam, e não os eleitores.

 

Quando acontecerá o próximo equilíbrio?

Bem, há-de chegar a um ponto em que a diminuição da actividade económica na Europa será tal que os mercados não conseguirão extrair mais dinheiro. Muita dívida soberana e dívida privada ficará por pagar, o que corresponde a uma baixa de rentabilidade real do capital. Nessa altura, aqui em Portugal, estaremos nos níveis de consumo e qualidade de vida da década de 1960. (Em 2012-13 estaremos nos níveis de 1985).

Entretanto a agitação social fará com que a política tome novamente a primazia.

 

Como mudar isto? Com bons políticos, que tenham sentido de Estado. Que coloquem a felicidade dos cidadãos acima do equilíbrio das contas. Infelizmente, não há nenhum à vista. A Europa está entregue a gente menor, que só vê números à frente: as percentagens das eleições e as percentagens dos juros. Gente que diz o que for preciso para ganhar um voto e faz o que for preciso para baixar um ponto nos juros. Esqueceu-se do que era o projecto europeu, o objectivo de uma Europa homogénea nos direitos e nos rendimentos. Medíocres que se esqueceram da solidariedade e estão a voltar ao egoísmo dos nacionalismos.

 

Se não aparecerem meia dúzia de bons líderes nos próximos anos (meses), os “os mercados”, essas entidades anónimas e impessoais, vão engordar e engordar até rebentar – como o Sr. Creozote dos Monty Pyton.

Até explodir mais essa bolha e começar um novo ciclo, vamos passar anos muito difíceis.

Apertem os cintos.

 

publicado por Perplexo às 16:20
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De O banqueiro a 14 de Novembro de 2011
MAS QUEM É QUE MANDA NO BCE E PERMITE UM ESCÂNDALO DESTES?

- Mandam os governos dos países da zona euro. A Alemanha em primeiro lugar que é o país mais rico, a França, Portugal e os outros países.



ENTÃO, OS GOVERNOS DÃO O NOSSO DINHEIRO AO BCE PARA ELES EMPRESTAREM AOS BANCOS A 1%, PARA DEPOIS ESTES EMPRESTAREM A 5 E A 7% AOS GOVERNOS QUE SÃO DONOS DO BCE?

- Bom, não é bem assim. Como a Alemanha é rica e pode pagar bem as dívidas, os bancos levam só uns 3%. A nós, à Grécia ou à Irlanda que estamos de corda na garganta e a quem é mais arriscado emprestar, é que levam juros a 6%, a 7 ou mais.



ENTÃO NÓS SOMOS OS DONOS DO DINHEIRO E NÃO PODEMOS PEDIR AO NOSSO PRÓPRIO BANCO!...

- Nós, qual nós?! O país, Portugal ou a Alemanha, não é só composto por gente vulgar como nós. Não se queira comparar um borra-botas qualquer que ganha 400 ou 600 euros por mês ou um calaceiro que anda para aí desempregado, com um grande accionista que recebe 5 ou 10 milhões de dividendos por ano, ou com um administrador duma grande empresa ou de um banco que ganha, com os prémios a que tem direito, uns 50, 100, ou 200 mil euros por mês. Não se pode comparar.



MAS, E OS NOSSOS GOVERNOS ACEITAM UMA COISA DESSAS?

- Os nossos Governos... Por um lado, são, na maior parte, amigos dos banqueiros ou estão à espera dos seus favores, de um empregozito razoável quando lhes faltarem os votos.



MAS ENTÃO ELES NÃO ESTÃO LÁ ELEITOS POR NÓS?

- Em certo sentido, sim, é claro, mas depois... quem tem a massa é quem manda. É o que se vê nesta actual crise mundial, a maior de há um século para cá.

Essa coisa a que chamam sistema financeiro transformou o mundo da finança num casino mundial, como os casinos nunca tinham visto nem suspeitavam, e levou os EUA e a Europa à beira da ruína. É claro, essas pessoas importantes levaram o dinheiro para casa e deixaram a gente como nós, que tinha metido o dinheiro nos bancos e nos fundos, a ver navios. Os governos, então, nos EUA e na Europa, para evitar a ruína dos bancos tiveram de repor o dinheiro.



E ONDE O FORAM BUSCAR?

- Onde havia de ser!? Aos impostos, aos ordenados, às pensões. De onde havia de vir o dinheiro do Estado?...



MAS METERAM OS RESPONSÁVEIS NA CADEIA?

- Na cadeia? Que disparate! Então, se eles é que fizeram a coisa, engenharias financeiras sofisticadíssimas, só eles é que sabem aplicar o remédio, só eles é que podem arrumar a casa. É claro que alguns mais comprometidos, como Raymond McDaniel, que era o presidente da Moody's, uma dessas agências de rating que classificaram a credibilidade de Portugal para pagar a dívida como lixo e atiraram com o país ao tapete, foram... passados à reforma. Como McDaniel é uma pessoa importante, levou uma indemnização de 10 milhões de dólares a que tinha direito.



E ENTÃO COMO É? COMEMOS E CALAMOS?

- Isso já não é comigo, eu só estou a explicar...
De diogo a 14 de Novembro de 2011
nao sou de ler muito mas li o teu comentario e lia de novo....

mto bom
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